Uma viagem interestelar pela corrida espacial durante a Guerra Fria. No filme Mondo LXXV, o cineasta Rei Souza reinventa o boom tecnológico dos anos 1970 a partir da conjunção de sons e imagens extraídas de antigas edições da National Geographic que encontrou em um sebo de Anápolis. O curta-metragem é uma das 98 produções exibidas a partir de amanhã no Fronteira Festival Internacional do Filme Documentário e Experimental, realizado até dia 21, no Cine Lumière, do Banana Shopping. Confira a programação completa aqui.
Na quarta edição, a mostra apresenta um recorte de cinemas minoritários, periféricos e engajados. Neste ano, a curadoria escolheu títulos que representam o que existe de mais arriscado no cinema contemporâneo mundial. Estão no campo do documentário e do experimental, ou pelo menos fora da dimensão da narrativa ficcional mais tradicional.
“Elegemos como cânones outras tradições e histórias do cinema. Nos interessamos pela história do cinema como gesto humano, em direção a uma busca de justeza do mundo, de ajuste, transformação”, aponta a diretora do festival, Marcela Borela. A programação do Fronteira, além dos filmes de 26 países distribuídos em mostras especiais e competitivas, ainda contempla ações de formação, como debates, masterclasses e a quarta edição da residência Estado Crítico.
A sessão de abertura, quinta-feira, às 20 horas, conta com a exibição de 165708, curta de Josephine Massarella (Canadá, 2017), e Djamilia, de Aminatou Echard (França, 2018), com a presença da realizadora francesa. Ao longo da próxima semanas, títulos com diferentes narrativas, paisagens e linguagens poderão serem conferidos pelo público. “São outras experiências, independentes do fluxo do cinema hegemônico”, comenta Marcela.
Entre os destaques da programação está a mostra especial Atualidade Rossellini, que homenageia o cineasta Roberto Rossellini, um dos realizadores mais importantes do neorrealismo italiano. A sessão perpassa por toda a carreira do diretor. Serão exibidos sete cópias de seus clássicos, restauradas recentemente pela Cinemateca de Bologna, Itália. “Trata-se do maior cineasta do pós-guerra, inventor do cinema moderno. Ainda é pouco conhecido no Brasil. Filmava em plano-sequência, sem roteiro, filmes muitas vezes híbridos de elementos documentais e ficcionais”, explica a diretora. A mostra especial será comentada pelo pesquisador Adriano Aprá.
Há ainda outras mostras não competitivas que figuram na programação, com a exibição de curtas e longas: Cineastas na Fronteira – Lee Anne Schmitt e Stephen Broomer, Cadmo e o Dragão, Às Primaveras que Virão, Experimentos da Diáspora Africana, Visões da Destruição. Haverá ainda sessão especial com acompanhamento ao vivo da Onomatorquestra.
Debate
Entre os debates, o festival discute questões emergenciais de linguagem e contexto político-histórico pertinentes ao cinema contemporâneo. No próximo domingo, após a sessão da Mostra Especial - Às Primaveras que Virão, os realizadores e pesquisadores Marcelo Soldan, Mateus Ferreira e Tatiana Leal debatem sobre os filmes exibidos, que revelam a desobediência e os questionamentos, em linguagem e postura política, de cineastas cidadãos em busca de um mundo diferente.